NUMA ESCOLA DE HAVANA: Filme imperdível para qualquer educador


   É maravilhoso quando encontramos um filme que representa muito do que pensamos e queremos dizer, não acham? Pois é, no meu caso, o longa-metragem cubano Numa Escola de Havana (Conducta, Cuba, 2014) dirigido por Ernesto Daranas Serrano representa esta ideia. Assisti ontem (04/10) indicado por uma de minhas formadoras e vou dizer: vale muito a pena. É imperdível para qualquer pessoa ligada à área da educação. Não dá para ser pedagogo e não ver. E também, como dizia uma professora da minha faculdade: "Não dá para sair do curso de Pedagogia sem ter assistido". Pois é! Tá curiosx? Vem comigo que eu conto os detalhes, sem estragar o mistério, é claro! Boa leitura.

   Já faz algum tempo que mudei minha conduta e meus pensamentos a respeito dos alunos "difíceis" que encontramos em nossas escolas. Eles sempre estão por lá e agora, todos sempre teremos essas peças raras para lidar durante o ano. Ano passado eu tive vários. Isso porque lecionei em duas turmas de 3º ano (Ciclo Inicial/Fundamental I), então, era tudo em dose dupla. Foi um ano difícil, mas de muito aprendizado. Eles me ensinaram muito. Eu mais aprendi do que ensinei para falar a verdade. 
   Os tipos me ensinaram que a escola deve ser um lugar mais humano e que se não houver espaço para a confiança, a amizade e o afeto ela não funcionará. Eles me ensinaram que por trás do comportamento difícil há muitas questões a serem tratadas. Que na escola, suas indisciplinas na verdade eram pedidos de socorro, um grito por colo. Alguém quer ser ouvido. Foi muito difícil perceber isto, mas consegui. Houve um dia em que disse à eles que nunca mais gritaria, daria broncas que pudessem ofender ou qualquer coisa. A partir e então as coisas começaram a mudar.
   Não estou dizendo aqui que professor deve ser como pai, mãe, avó, psicólogo, terapeuta ou etc. Não. Mas em muitos casos é preciso entender o entorno daquela pessoa para compreender seu comportamento e assim enxergar como se pode ajudar.
    Chala (Armando Valdes Freire) é um desses alunos. Tem onze anos e frequenta a turma de sexto ano em Havana, capital de Cuba, onde sua professora é Carmela (Alina Rodriguez). Os dois tem uma grande relação de cumplicidade, visto que Carmela conhece Chala há três anos e sabe do contexto em que vive.


   O filme é um ótimo retrato da situação social de Cuba que ainda vive as injúrias do embargo econômico provocado pelos Estados Unidos, mesmo tendo sido revisto recentemente. Podemos ver suas arquitetura rústica e antiga, seus veículos antiquados e muitas outras realidades tão distintas e tão próximas às que temos por aqui.
   Chala, o menino com o lápis na mão na foto acima, vive em um cortiço com sua mãe que é garota de programa e usuária de drogas. Carmela é uma professora bem experiente e nem por isso antiquada. Conhece seus alunos a finco e lida com todos eles de uma maneira amistosa e querida. No entanto, Carmela sofre um infarto após se despedir de seu neto e sua ausência é substituída por outra docente. A professora ao assumir a turma não tem a mesma postura que Carmela e então, como já sabemos, difíceis situações começam a surgir.
   Com o desenrolar da trama, Chala acaba tendo que ir para uma "escola de conduta" e aí o filme acontece. 
   Não só o universo de Chala é retratado, mas como o sistema de ensino cubano lida com tais questões são retratadas no filme. Há questões culturais e políticas que o diretor, Daranas, coloca em cheque de maneira sutil e inteligente. 
  Dá pra se identificar muito com o enredo e muitas vezes me ví em situações como aquelas. Os problemas sociais, as divergências dos órgãos que gerenciam a educação e os contextos históricos das crianças são mostrados e nos fazem refletir sobre nossa ocupação. A Professora Carmela é um exemplo. Um referencial na postura de professor. Uma docente digna, com qualidade, postura e argumento. É claro que há condutas exibidas que não podemos acatar para nós, isso quem ver perceberá. Mas a perseverança da professora é possível e necessária para os professores brasileiros.
 

  Eu assisti o filme no Caixa Belas Artes (R. da Consolação, 2423 - Consolação, São Paulo - SP) e ao que parece sua temporada é curta. Mas fica a dica aí para deleite, momentos de formação e inspiração.
  Este é um dos filmes que considero essenciais para qualquer educador. Numa Escola de Havana é poético, é próximo a nós e encantador. Chala é um de nossos alunos cheios de responsabilidades e com a infância comprometida e Carmela, a professora, é a nossa utopia enquanto docente. Seguem abaixo maiores informações:



SINOPSE

Chala é um menino com sérios problemas na família e na escola. Quando sua professora Carmela, a única pessoa que ele respeita, é afastada por motivos de saúde, ele é levado para um internato. Ao voltar, ela tenta reverter a decisão, mesmo que isso coloque em risco o destino dos dois.

IDIOMA: Espanhol   LEGENDA: Português   NACIONALIDADE: Cuba   CATEGORIA: Drama

DURAÇÃO: 108 min.   ANO: 2014   CLASSIFICAÇÃO: 12 anos   DIREÇÃO: Ernesto Daranas

ELENCO: Silvia Aguila, Alina Rodríguez e Armando Valdés Freire

Em cartaz até 07/10 no Caixa Belas Artes (clique para ver horários.)

TRAILER:


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   Numa Escola de Havana é muito parecido com Os Incompreendidos de Fraçois Truffaut, um clássico do cinema. Caso não conheça, vale muito a pena ver também!
   Por enquanto é isso, queridxs, espero que possam aproveitar essa belíssima obra tanto quanto eu.
   
   Esses e outros abraços!

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