Se há um tema em comum que toda a sociedade discute quando se fala em Educação é a tal da “Indisciplina Escolar”. Gestores, professores, alunos e as comunidades escolares vivem preocupadas com esta questão que faz a vida escolar mais difícil e desafiadora.
Quando o assunto surge nas pautas escolares a indisciplina vem sempre acompanhada de um termo, recentemente criado, para orientar os profissionais de educação: a gestão de sala de aula, ou gestão de aula, gestão de turma e etc. Mas será que este termo, esta habilidade, está clara para a maioria dos docentes? O que é preciso para se ter uma gestão de aula eficiente? Para amenizar estas questões e estimular a pesquisa sobre assunto é que serve o post desta semana. Boa leitura!
Quem está na profissão há algum tempo e passou por algumas situações difíceis na convivência com os alunos, certamente já ouviu falar sobre a sua “gestão de sala de aula”. Alguns ouviram que ela é fraca, que precisa ser aperfeiçoada ou ainda que não a possui. Mas qual seria o sentido real desta expressão? Quais habilidades e procedimentos são precisos então para fortalecer e aperfeiçoar esta prática? O primeiro passo para responder a esta pergunta é saber o que caracteriza a gestão de sala de aula.
Gestão de aula é o conjunto de habilidades e estratégias que o professor conhece e pratica para garantir o melhor aprendizado possível para seus alunos nos mais variados momentos e espaços da escola. Muito amplo, não? Serei mais objetivo: gestão de aula não se limita a conseguir o silêncio do grupo de alunos durante as atividades, ao medo do professor diante de uma advertência ou conseguir mantê-los quietos e organizados nas diversas situações. A GDA (gestão de aula, vamos usar assim) não depende apenas da autoridade do professor, mas da maneira como ele apresenta esta autoridade aos alunos, a maneira como conduz as atividades, a maneira como lida com o tempo para cada experiência e a maneira como intervém nas situações conflituosas do cotidiano.
Muitos dizem que GDA é ter autoridade e firmeza com os alunos. Isto é um equívoco. A autoridade e firmeza são indispensáveis na conduta profissional, mas deve sempre vir acompanhar do respeito e da possibilidade do diálogo. Não podemos confundir as palavras e os sentidos das expressões: autoridade e autoritarismo. Autoridade é ser visto como o responsável pela turma; os alunos devem enxergar a autoridade da sala de aula com respeito e saber que há ali um adulto responsável por eles enquanto executam as atividades; devem confiar nesta liderança; devem sentir que podem ser ouvidos e tem suas opiniões respeitadas. Autoritarismo trás a ideia de que quem manda aqui sou eu, ou seja, não há espaço para a democracia, não há oportunidade de participação dos alunos nas decisões e nos rumos da turma. Autoritarismo pertencia a figura do professor (mestre-escola) de décadas atrás. No momento de hoje, com a liberdade que temos de interagir e escolher o que queremos e preferimos, aceitar o que é imposto sem o mínimo de diálogo ou consulta causa revolta.
Mas e o respeito? De onde vem?Conseguir o respeito na escola depende de ações que façam os alunos entenderem que há limites e normas para serem cumpridas e que estes elementos servem para garantir a segurança e o aprendizado de todos e também que eles podem participar dos processos de definição de combinados, na resolução dos problemas e nas decisões da turma. O professor respeitado não precisa ser temido. Ganhamos o respeito dos alunos quando construímos uma relação de confiança. Se o aluno se sente amparado mesmo quando falha, mesmo quando lhe é aplicado uma sanção ou responsabilização, há um elo de confiança. O respeito é produzido com o encanto, com a firmeza dos combinados e com o cuidado nas relações.
A GDA mostra a maturidade do profissional e a qualidade de sua formação pedagógica.
Para ficar ainda mais claro vamos pensar no âmbito da gestão escolar. O que a ela compete? Organizar os horários das várias atividades da escola, estabelecer uma união ao grupo de funcionários para que a rotina seja cada vez melhor, mediar conflitos, orientar e formar profissionais quando estes precisarem e mais uma série de coisas. A gestão escolar conduz o trabalho da escola toda. A GDA é uma esfera menor, limitada ao professor e aos alunos em que lida diretamente. Então, vem daí o conjunto de habilidades: planejar atividades considerando e prevendo o tempo e a forma como se darão, alternativas para quem possui dificuldades ou termina antes ou muito tempo depois do restante do grupo, conhecer as relações do grupo e como usá-las de maneira positiva, garantir que os combinados sejam cumpridos e quando não, tomar as providências já estabelecidas logo após a situação em questão, levar em conta o nível de agitação ou quietude da turma e usar estratégias para acalmá-los ou animá-los quando necessário. Enfim, a lista pode ser gigantesca, mas no geral, estas habilidades compõem a GDA.
Como já disse, a GDA sempre virá a tona quando o assunto for indisciplina e este tópico é sempre muito polêmico. É preciso ter conhecimento e cautela para falar sobre o tema. A indisciplina escolar afeta diretamente nosso valores pessoais enquanto cidadãos. Se não temos um maturidade profissional e uma formação pedagógica bem qualificada, a indisciplina nos incomoda pessoalmente e este é um limite que todos nós, professores, devemos estabelecer. O comportamento dos alunos mexe diretamente com a formação moral que tivemos e separar o que EU considero como valor do que o que ELES consideram é uma tarefa um pouco árdua. O conflito desses valores gera a indisciplina. Por isso os principais pesquisadores e formadores em educação enfatizam a importância da construção desses valores a partir dos combinados coletivos: há aí um momento de troca e os valores morais são construídos de maneira que todos que participam podem seguir. Não haverá conflito neste caso; não serão MEUS valores, serão os NOSSOS. É claro que durante esta construção, nosso senso crítico é fundamental, afinal, somos nós quem possuímos formação e conhecimento para lidar com tais questões, não?
Outra questão importante, tanto para a GDA, quanto para entender a indisciplina é o conhecimento a respeito daquele grupo. Tanto as características pessoais e de personalidade como a de comportamento de acordo com suas idades. Quem trabalha na Educação Infantil é especializado no comportamento das crianças entre 0 a 5 anos, concordam? Se este mesmo profissional assumir aulas no Ensino Médio, é óbvio que suas práticas terão de ser revistas, afinal, é um outro público com outra idade (sem falar nas especificidades da comunidade e da escola). Portanto, os professores do Ensino Fundamental I e II também precisam saber quais comportamentos e atitudes são típicas entre essas idades: 6 a 10 anos e 11 a 14 anos. É claro que algumas atitudes não podem ser aceitas com tanta naturalidade, mas a partir destes conhecimentos fica mais fácil entender o que os motiva a ter determinado tipo de comportamento e como intervir da melhor forma. As fases do desenvolvimento moral da criança estudadas por Jean Piaget ajudam muito a entender algumas condutas.
Por essas e outras que a GDA é algo bem mais vasto. Todos temos GDA, a diferença é se ela é eficaz ou está comprometida. Quando há um professor com dificuldades em gerenciar suas aulas é preciso que a equipe gestora da unidade de ensino entre em ação para descobrir a origem desta necessidade (que não necessariamente deve ser profissional, pode ser pessoal também). Diagnosticada a dificuldade, é preciso oferecer o apoio necessário para o aperfeiçoamento da prática do profissional seja com estudos, orientações ou intervenções diretas nas aulas. Sabemos que há profissionais que são muito resistentes à ajuda; geralmente, estes temem serem prejudicados em questões administrativas. A abordagem para este sujeito deve ser com calma, é preciso que ele saiba que não será prejudicado e sim amparado.
Portanto, a GDA é uma das competências que devemos ter enquanto professores. Hoje somos responsáveis não só pelo ensino mas pelas situações sociais as quais os alunos vivenciam nesta escola. Os conflitos vão surgir sempre, fazem parte da desordem natural da vida (haha!). A maneira como são vistos na escola é que deve ser mudada. Claro que violência não deve ser aceita e sim prevenida e combatida. Quando ocorrem devem ser vistas como situações de aprendizagem: os envolvidos devem aprender com aquilo. Aprender que estas atitudes geram consequências nunca boas e que existem outras formas mais humanas de se resolver os problemas. Por vezes, a conversa e a orientação não bastam. Outras medidas devem ser tomadas e a escola deve discutir isso, mas sempre com bons argumentos e fundamentos teóricos, afinal, em sua maioria, somos PEDAGOGOS: especialistas em educação e desenvolvimento cognitivo. Mesmo quem não tem o curso de Pedagogia precisa estar por dentro dos conhecimentos sobre o desenvolvimento moral, psicológico e cognitivo que envolvem a educação e nossos alunos. Não precisamos ser psicólogos, psicanalistas, neurocientistas ou terapeutas, mas precisamos entender a missão que nos cabe e mostrar à sociedade que apenas um giz na mão e um livro na outra não nos faz professores. Que hoje, a exigência é muito maior.
Segue abaixo, alguns materiais que serviram de base para este post e algumas práticas que podem ajudar tanto na formação pedagógica como na prática de professores e gestores:
E uma prática pouco divulgada, a Sociometria, ela pode ajudar a entender melhor as relações entre os alunos. Confira no link abaixo uma introdução e um dos procedimentos para executá-la. (Logo mais farei um post apenas sobre esta prática!)
Bem, amigxs, por hoje é só (tudo) isso! Espero ter contribuído. Sei que há ainda muitas questões que o post não deu conta de responder, mas ainda haverá muito espaço no Desordem para falarmos sobre isso.
Comentem, compartilhem, sua ajuda é fundamental!
E para dúvidas ou questões, estou disponível em: edsonbrandao@live.com . Respondo às questões com o maior prazer!
Esses e outros abraços.
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